sexta-feira, 25 de novembro de 2016

Ameaças à Biodiversidade
A manutenção de ecossistemas saudáveis são fundamentais à vida e às atividades humanas. Os bens e serviços que oferecem são essenciais tanto para a manutenção do bem-estar do Homem como para o desenvolvimento económico e social futuro (Sala et al, 2000, MEA, 2005, Groombridge e Jenkins, 2002 citados por Proença e Araújo, 2009, Comissão Europeia, 2009).
Os bens produzidos pelos ecossistemas incluem os alimentos, água, combustíveis e madeira, enquanto que os serviços ecossistémicos abrangem o fornecimento de água e purificação do ar, a reciclagem natural de resíduos, a formação do solo e a polinização. Ainda nos serviços ecossistémicos estão incluídos os mecanismos que a natureza utiliza para controlar as condições climatéricas, as populações de animais, insectos e outros organismos (Jesus e Sampaio, 2007). A biodiversidade ainda proporciona serviços de educação, cultura e lazer na natureza, bem como a apreciação estética dos ecossistemas e das suas componentes (Avelar, sd ).



Palácio de Monserrate – Sintra (fotografia da minha autoria)

No entanto, são as atividades humanas que estão a destruir a biodiversidade a um nível global e a alterar a capacidade dos ecossistemas para produzirem esta enorme gama de bens e serviços (Sala et al, 2000, MEA, 2005, Groombridge e Jenkins, 2002 citados por Proença e Araújo, 2009, Comissão Europeia, 2009).
O Millennium Ecosystem Assessment (MEA) define promotor de alterações à biodiversidade como “qualquer factor natural ou antropogénico que direta ou indiretamente cause uma alteração num ecossistema” (Domingos et al, 2009).

Promotores das alterações à biodiversidade em Portugal Continental
Das forças motrizes diretas contamos com:
-as alterações ao uso do solo;
-a sobreexploração de recursos;
-o aumento da rede viária;
-a poluição;
-o efeito das alterações climáticas.
Das forças motrizes indiretas, ou seja, aquelas que não afetam diretamente os ecossistemas mas que têm efeito sobre as forças motrizes diretas, temos:
-a influência das políticas e directivas comunitárias, tanto a nível ambiental como a nível económico e social;
-a Política Agrícola Comum (PAC);
-os fatores demográficos;
-a conjuntura económica no país.

De notar que, em Portugal Continental, o estado atual dos ecossistemas resulta de um longo processo de alteração, perturbação e destruição dos habitats naturais. A floresta original, dominada por espécies de Quercus e Betula foi lentamente destruída, como consequência da preparação das terras para pastos e cultivos. A partir do séc.XX, após vários programas de reflorestação à escala nacional, a floresta voltou a ocupar grandes áreas de solo. No entanto, a floresta atual é muito diferente da original, provocando a framentação de habitats (Araújo e Proença, 2009).
Esta perda de serviços ecossistémicos, como consequência da perda de biodiversidade, irá exigir alternativas dispendiosas (MEA, 2005). Igualmente importante, é a herança natural que a biodiversidade representa e portanto é obrigação moral de todos nós saber geri-la de modo sustentável, para que a possamos transmitir às gerações futuras.

Referências Bibliográficas
ARAÚJO, Miguel, PROENÇA, Vânia (2009). Biodiversidade.
AVELAR, David et al (sd). Estudo do efeito das alterações climáticas no Município de Sintra. Projeto SIAM. Lisboa.
Comissão Europeia (2009). Bens e Serviços Ecossistémicos.
DOMINGOS, Tiago et al (2009). Promotores de alterações nos Ecossistemas.
JESUS, Ana Clara, SAMPAIO, Isabel (2007). Fundamentos de Educação Ambiental. Faculdade de Tecnologia e Ciências.
Millennium Ecosystem Assessment (2005). Causes of biodiversity change. Ecosystems and human well-being: Biodiversity Synthesis. World Resources Institute. Washington DC.


terça-feira, 22 de novembro de 2016

Ameaças à Biodiversidade

Segundo o Millennium Ecosystem Assessment, a mudança dos padrões, a nível global, da biodiversidade e serviços ecossistémicos está relacionada:
Indiretamente - aspectos demográficos, económicos, socio-políticos, culturais/religiosos e científicos/tecnológicos.
Diretamente - alteração de habitats, alterações climáticas, introdução de espécies exóticas, sobre-exploração de espécies e poluição.

Mas, e quando a maldade humana também é promotor direto da perda de biodiversidade?...
Na ilha de Bornéu, na Ásia, uma organização de resgate animal conseguiu resgatar um orangotango bébé preso numa cozinha há mais de seis meses. O animal estava a ser mantido como animal de estimação. Sendo uma espécie ameaçada, o orangotando-de-bornéu não pode, por lei, ser mantido como animal de estimação. No entanto, indiferentes a esta probição os “donos de Bonika”, mantinham o animal bébé preso com uma corrente a uma tábua de madeira, no interior da cozinha da família.


Bonika, está agora de quarentena no International Animal Rescur Orangutan Center para despitar possíveis doenças. Após este período, começará um processo de reabilitação para que logo que possível volte para o seu habitat natural.
Com elevado risco de extinção, o orangotango-de-bornéu está classificado como espécie ameaçada pela União Internacional para a Conservação da Natureza. (GreenSavers 21/11/2016)
Os primatas são de uma enorme importância na saúde dos ecossistemas. São os responsáveis pela reprodução de uma série de plantas e animais devido à dispersão de sementes de frutas e plantas por eles consumidas. Segundo algumas organizações não governamentais tais como a “Care for the wild” e a “Prowildlife”, o consumo de carne de primatas leva à caça de 5,4 milhões por ano só na Amazónia Brasileira.
Presentemente, a caça aos primatas supera a destruição dos habitas, na ameaça à sua extinção.


Referências Bibliográficas
ARAGÃO, M.J. (2011). Biodiversidade e Sustentabilidade da Vida. Media XXI. Odivelas.
Millennium Ecosystem Assessment (2005). Causes of biodiversity change. Ecosystems and Human Well-being: Biodiversity Synthesis. World Resources Institute, Washington, D.C.

Fotografia: International Animal Rescue Orangutan Center

quarta-feira, 9 de novembro de 2016

Conceitos e valores da Biodiversidade
O termo Biodiversidade resulta da fusão das palavras “Biologia” (ramo da ciência que estuda os seres vivos) e “diversidade” (Aragão, 2011).
Foi na década de 80 que o termo Biodiversidade se tornou conhecido e a sua divulgação dá-se a partir da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (CNUMAD), também conhecida por Rio 92. Durante essa conferência ocorreu a Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB), na qual 175 países, assinaram medidas gerais para a conservação e utilização sustentável da Biodioversidade (Fonseca, 2007). Também foi nesta Convenção que se chegou a uma “definição bastante ampla de Biodiversidade” (Franco, 2013), que abrange a diversidade de espécies, diversidade genética e diversidade de ecossistemas.

Biodiversidade é, pois, a variedade de todos os seres vivos. Em termos mais precisos é a variabilidade entre todos os organismos vivos, incluindo terrestres e marinhos, outros ecossistemas aquáticos e ecossistemas do subsolo. (Aragão, 2011).
No entanto, apesar da utilização usual do conceito de biodiversidade, não existe apenas uma definição com vista a possíveis aplicações em planeamento, ordenamento do território e conservação (Araújo, 1998). Também Franco (2013) refere que “a noção de biodiversidade ou diversidade biológica permanece bastante vaga, e a medição da biodiversidade no mundo real não é tarefa fácil.”
A avaliação da biodiversidade tem sido realizada de forma diversa consoante o grupo profissional ou social que a interpreta:
Para os ecólogos das comunidades, o conceito tem sido associado a dois componentes distintos: a riqueza, que dá mais peso relativo às espécies raras e a equitibilidade, dando maior ponderação às espécies comuns.
Para os taxonomistas, quantificar a biodiversidade é medir números e diferenças entre atributos taxonómicos (Gaston, 1996a; Humphries et al, 1995, citados por Araújo, 1998).
Para os conservacionistas, valoriza-se o raro, o belo e o pouco habitual.
Mas, para a maioria dos autores, a conservação da biodiversidade tem sido justificada em termos de valor económico, funcionalidade ecológica e ética biológica (Northon, 1986, Swanson, 1995 e Caughley,  Gunn, 1996 citados por Fonseca, 2007).
O argumento económico refere que a humanidade obtém dos recursos biológicos, elementos indispensáveis à sua sobrevivência como os alimentos, os remédios e os produtos industrializados, para além de usufruir de inúmeras vantagens económicas provenientes desses recursos .
O argumento da funcionalidade ecológica evidencia que os ecossistemas são sensíveis a mudanças efectuadas na sua biodiversidade, pois os organismos que vivem, crescem, reproduzem e interagem neles ajudam a medir fluxos locais e regionais de energia e matéria. Os fluxos de energia dizem respeito à captura de energia pelas plantas verdes ou algas fotossintetizantes e a sua dispersão como energia química ao longo do ciclo alimentar para plantas ou animais predadores e, eventualmente, decompositores. O fluxo de matéria envolve a reciclagem de carbono, nitrogénio, fósforo, e outros elementos, entre os organismos vivos, e o ar, a água e o solo. Desse modo, os mediadores biológicos de ciclos de energia e materiais contribuem para a manutenção dos ecossistemas, apoiando a vida, além de trazerem benefícios ao bem-estar humano, tais como: regulação do efeito de estufa, tratamento da água, controle de erosão, controle da qualidade do solo e crescimento de plantas (Naeem, 1999 citado por Fonseca, 2007). Por outro lado, a diminuição na riqueza de espécies pode comprometer, a níveis globais, o funcionamento dos ecossistemas, pois a resposta de um destes ao declínio da biodiversidade é dependente da composição da comunidade, isto é, tem relação com as espécies perdidas e aquelas que permanecem.
O argumento ético preconiza que todas as espécies, como parte da comunidade de seres vivos, têm um valor em si, sem conexão com as necessidades dos humanos, por isso a sua sobrevivência precisa de ser garantida, de modo a conservar a integridade da biosfera. Considera, ainda, o mundo como interdependente e que a humanidade, como parte da natureza, precisa construir uma cultura em que a vida seja vista como dependente dos sistemas naturais e sociais para ser mantida. Por isso, a humanidade deve ter respeito profundo pela natureza, acompanhado de um senso de responsabilidade social, capaz de promover a sua conservação  (Wilson, 1992 citado por Fonseca, 2007).
Os argumentos económicos, ambientais e éticos estão interligados, na medida em que o declínio das espécies e a degradação dos ecossistemas estão intrinsecamente ligados ao bem-estar humano e a sua conservação, num sentido de salvaguarda e de utilização racional e sustentável, constitui uma obrigação moral e civilizacional (Fadigas, 2011)
O Intergovernmental Painel on Climate Change (IPCC), aponta a atividade humana como sendo a principal causa para a mudança do clima devido a um consumo crescente de combustíveis fósseis, originando um acréscimo nas emissões de gases com efeito de estufa (GEE). 
As Alterações Climáticas (AC) que se refletem no domínio ambiental também colocam em causa a sobrevivência das sociedades humanas tal como as conhecemos e a prosperidade da economia mundial. As AC são uma das causas da perda da biodiversidade. Simultaneamente esta perda de biodiversidade será um fator decisivo para o aceleramento e intensificação das alterações climáticas. Os ecossistemas terrestres, tais como as turfeiras e zonas húmidas, ambas consideradas autênticas relíquias biológicas, os solos, as florestas e os ecossistemas marinhos absorvem cerca de metade das emissões de dióxido de carbono (CO2) produzidas pelo homem. Segundo o grupo de peritos da União Europeia para a biodiversidade e as alterações climáticas, os ecossistemas terrestres armazenam cerca de 2100 GT de carbono em organismos vivos, na folhada e na matéria orgânica do solo, ou seja, quase o triplo do carbono atualmente presente na atmosfera. Também os oceanos e os ecossistemas marinhos têm um importante papel na gestão do carbono, dado que é no fundo dos oceanos que se armazenam grandes quantidades de carbono.
Os decisores políticos têm respondido às preocupações sobre o declínio dos níveis de biodiversidade através da introdução de várias políticas ambientais. A quantificação do valor económico da biodiversidade é um passo fundamental na conservação deste recurso (Pearce, 2001 citado por Christie et al, 2006).
Os recursos naturais, na sua diversidade, são valores económicos, sociais, culturais, recreativos, estéticos e científicos, essenciais à vida humana e á sua sobrevivência, daí que a conservação da natureza deva ser considerada como matéria central das políticas de ordenamento do território e um dos seus referenciais (Fadigas, 2011).
Assim sendo, a manutenção de espaços verdes nas cidades, como os corredores ecológicos, permite uma presença de elementos de fauna e flora muito diversificados, permitindo o controle da erosão do solo, facilita o ciclo hídrico, tendo funções de enquadramento, recreio, protecção e é factor de qualificação ambiental (Fadigas, 2010).

Referências Bibliográficas

ARAGÃO, M.J. (2011). Biodiversidade e Sustentabilidade da Vida. Media XXI. Odivelas.
ARAÚJO, M. (1998). Avaliação da biodiversidade em conservação. Silva Lusitana.
COMISSÃO EUROPEIA (2010). O papel da natureza nas alterações climáticas. Grupo de Peritos ad hoc para a biodiversidade e as alterações climáticas.
CHRISTIE, M. et al (2006). Valuing the diversity of biodiversity. Ecological Economics, 58:304-317.
FADIGAS, L. (2010). Urbanismo e Natureza – Os Desafios. Edições Sílabo, Lda. Lisboa.
FADIGAS, L. (2011). Fundamentos Ambientais do Ordenamento do Território e da Paisagem. Edições Sílabo, Lda. Lisboa.
FONSECA, M.C. (2007). A biodiversidade e o desenvolvimento sustentável nas escolas do ensino médio de Belém, Brasil. Revista Educação e Pesquisa. Vol.33, p.63-79.
FRANCO, J.A. (2013). O conceito de biodiversidade e a história da biologia da conservação: da preservação da wilderness à conservação da biodiversidade. V.32, n.2, p.21-48. jul/dez. Universidade de Brasília.

INTERGOVERNMENTAL PAINEL ON CLIMATE CHANGE (2014). Climate Change 2014 – Synthesis Report, Fifth Assessment Report