Conceitos e valores da Biodiversidade
O
termo Biodiversidade resulta da fusão das palavras “Biologia” (ramo da ciência
que estuda os seres vivos) e “diversidade” (Aragão, 2011).
Foi na
década de 80 que o termo Biodiversidade se tornou conhecido e a sua divulgação
dá-se a partir da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e
Desenvolvimento (CNUMAD), também conhecida por Rio 92. Durante essa conferência
ocorreu a Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB), na qual 175 países,
assinaram medidas gerais para a conservação e utilização sustentável da
Biodioversidade (Fonseca, 2007). Também foi nesta Convenção que se chegou a uma
“definição bastante ampla de
Biodiversidade” (Franco, 2013), que abrange a diversidade de espécies,
diversidade genética e diversidade de ecossistemas.
Biodiversidade é, pois, a variedade de
todos os seres vivos.
Em termos mais precisos é a variabilidade entre todos os organismos vivos,
incluindo terrestres e marinhos, outros ecossistemas aquáticos e ecossistemas
do subsolo. (Aragão, 2011).
No
entanto, apesar da utilização usual do conceito de biodiversidade, não existe apenas
uma definição com vista a possíveis aplicações em planeamento, ordenamento do
território e conservação (Araújo, 1998). Também Franco (2013) refere que “a noção de biodiversidade ou diversidade
biológica permanece bastante vaga, e a medição da biodiversidade no mundo real
não é tarefa fácil.”
A avaliação da biodiversidade tem sido
realizada de forma diversa consoante o grupo profissional ou social que a
interpreta:
Para
os ecólogos das comunidades, o
conceito tem sido associado a dois componentes distintos: a riqueza, que dá
mais peso relativo às espécies raras e a equitibilidade, dando maior ponderação
às espécies comuns.
Para
os taxonomistas, quantificar a
biodiversidade é medir números e diferenças entre atributos taxonómicos
(Gaston, 1996a; Humphries et al, 1995, citados por Araújo, 1998).
Para
os conservacionistas, valoriza-se o
raro, o belo e o pouco habitual.
Mas, para
a maioria dos autores, a conservação da biodiversidade tem sido justificada em
termos de valor económico, funcionalidade ecológica e ética biológica (Northon,
1986, Swanson, 1995 e Caughley, Gunn,
1996 citados por Fonseca, 2007).
O
argumento económico refere que a humanidade obtém dos recursos biológicos,
elementos indispensáveis à sua sobrevivência como os alimentos, os remédios e
os produtos industrializados, para além de usufruir de inúmeras vantagens
económicas provenientes desses recursos .
O
argumento da funcionalidade ecológica evidencia que os ecossistemas são
sensíveis a mudanças efectuadas na sua biodiversidade, pois os organismos que
vivem, crescem, reproduzem e interagem neles ajudam a medir fluxos locais e
regionais de energia e matéria. Os fluxos de energia dizem respeito à captura
de energia pelas plantas verdes ou algas fotossintetizantes e a sua dispersão
como energia química ao longo do ciclo alimentar para plantas ou animais
predadores e, eventualmente, decompositores. O fluxo de matéria envolve a
reciclagem de carbono, nitrogénio, fósforo, e outros elementos, entre os
organismos vivos, e o ar, a água e o solo. Desse modo, os mediadores biológicos
de ciclos de energia e materiais contribuem para a manutenção dos ecossistemas,
apoiando a vida, além de trazerem benefícios ao bem-estar humano, tais como:
regulação do efeito de estufa, tratamento da água, controle de erosão, controle
da qualidade do solo e crescimento de plantas (Naeem, 1999 citado por Fonseca, 2007).
Por outro lado, a diminuição na riqueza de espécies pode comprometer, a níveis
globais, o funcionamento dos ecossistemas, pois a resposta de um destes ao
declínio da biodiversidade é dependente da composição da comunidade, isto é,
tem relação com as espécies perdidas e aquelas que permanecem.
O
argumento ético preconiza que todas as espécies, como parte da comunidade de
seres vivos, têm um valor em si, sem conexão com as necessidades dos humanos,
por isso a sua sobrevivência precisa de ser garantida, de modo a conservar a
integridade da biosfera. Considera, ainda, o mundo como interdependente e que a
humanidade, como parte da natureza, precisa construir uma cultura em que a vida
seja vista como dependente dos sistemas naturais e sociais para ser mantida.
Por isso, a humanidade deve ter respeito profundo pela natureza, acompanhado de
um senso de responsabilidade social, capaz de promover a sua conservação (Wilson, 1992 citado por Fonseca, 2007).
Os
argumentos económicos, ambientais e éticos estão interligados, na medida em que
o declínio das espécies e a degradação dos ecossistemas estão intrinsecamente
ligados ao bem-estar humano e a sua conservação, num sentido de salvaguarda e
de utilização racional e sustentável, constitui uma obrigação moral e
civilizacional (Fadigas, 2011)
O
Intergovernmental Painel on Climate Change (IPCC), aponta a atividade humana
como sendo a principal causa para a mudança do clima devido a um consumo
crescente de combustíveis fósseis, originando um acréscimo nas emissões de
gases com efeito de estufa (GEE).
As
Alterações Climáticas (AC) que se refletem no domínio ambiental também colocam
em causa a sobrevivência das sociedades humanas tal como as conhecemos e a
prosperidade da economia mundial. As AC são uma das causas da perda da
biodiversidade. Simultaneamente esta perda de biodiversidade será um fator
decisivo para o aceleramento e intensificação das alterações climáticas. Os
ecossistemas terrestres, tais como as turfeiras e zonas húmidas, ambas consideradas
autênticas relíquias biológicas, os solos, as florestas e os ecossistemas
marinhos absorvem cerca de metade das emissões de dióxido de carbono (CO2)
produzidas pelo homem. Segundo o grupo de peritos da União Europeia para a
biodiversidade e as alterações climáticas, os ecossistemas terrestres armazenam
cerca de 2100 GT de carbono em organismos vivos, na folhada e na matéria
orgânica do solo, ou seja, quase o triplo do carbono atualmente presente na
atmosfera. Também os oceanos e os ecossistemas marinhos têm um importante papel
na gestão do carbono, dado que é no fundo dos oceanos que se armazenam grandes
quantidades de carbono.
Os
decisores políticos têm respondido às preocupações sobre o declínio dos níveis
de biodiversidade através da introdução de várias políticas ambientais. A
quantificação do valor económico da biodiversidade é um passo fundamental na
conservação deste recurso (Pearce, 2001 citado por Christie et al, 2006).
Os
recursos naturais, na sua diversidade, são valores económicos, sociais,
culturais, recreativos, estéticos e científicos, essenciais à vida humana e á
sua sobrevivência, daí que a conservação da natureza deva ser considerada como
matéria central das políticas de ordenamento do território e um dos seus
referenciais (Fadigas, 2011).
Assim
sendo, a manutenção de espaços verdes nas cidades, como os corredores
ecológicos, permite uma presença de elementos de fauna e flora muito
diversificados, permitindo o controle da erosão do solo, facilita o ciclo
hídrico, tendo funções de enquadramento, recreio, protecção e é factor de
qualificação ambiental (Fadigas, 2010).
Referências
Bibliográficas
ARAGÃO,
M.J. (2011). Biodiversidade e
Sustentabilidade da Vida. Media XXI. Odivelas.
ARAÚJO,
M. (1998). Avaliação da biodiversidade em
conservação. Silva Lusitana.
COMISSÃO
EUROPEIA (2010). O papel da natureza nas alterações climáticas. Grupo de
Peritos ad hoc para a biodiversidade e as alterações climáticas.
CHRISTIE, M. et al (2006). Valuing the diversity of biodiversity. Ecological Economics, 58:304-317.
FADIGAS,
L. (2010). Urbanismo e Natureza – Os
Desafios. Edições Sílabo, Lda. Lisboa.
FADIGAS,
L. (2011). Fundamentos Ambientais do
Ordenamento do Território e da Paisagem. Edições Sílabo, Lda. Lisboa.
FONSECA,
M.C. (2007). A biodiversidade e o desenvolvimento sustentável nas escolas do
ensino médio de Belém, Brasil. Revista Educação e Pesquisa. Vol.33, p.63-79.
FRANCO,
J.A. (2013). O conceito de biodiversidade
e a história da biologia da conservação: da preservação da wilderness à
conservação da biodiversidade. V.32, n.2, p.21-48. jul/dez. Universidade de
Brasília.
INTERGOVERNMENTAL PAINEL ON CLIMATE CHANGE (2014). Climate
Change 2014 – Synthesis Report, Fifth Assessment Report