quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

Sistema Dunar “Guincho-Cresmina”
 Exemplo da interdependência entre a Geodiversidade e a Biodiversidade

As dunas são estruturas móveis resultantes da acumulação de areias transportadas pelo vento, nas quais as plantas têm um papel fundamental no seu processo de formação. São estruturas geológicas frágeis mas muito importantes, porque assumem um papel de proteção dos terrenos interiores da subida do nível do mar (Núcleo de Interpretação da Duna da Cresmina). São considerados ecossistemas que estabelecem a transição entre os sistemas marinho e terrestre, constituindo barreiras naturais a fenómenos de galgamento marinho, a inundações e erosão provocada por ventos marinhos. Os sistemas dunares são conjuntos de dunas organizados principalmente de acordo com as condições do vento de um dado local e, visto que estas raramente aparecem isoladas, constituem a forma mais comum de ocorrência das dunas. (Carapeto, 2013). 


                                         Foto 1 – Dunas Guincho-Cresmina

Os sistemas dunares costeiros são sistemas extremamente dinâmicos e sensíveis, sofrendo alterações, ao longo do tempo, de acordo com as pressões a que estão sujeitos. Do ponto de vista da conservação, os sistemas dunares costeiros são considerados como habitats naturais com um elevado valor conservacionista. (Silva et al). A natureza dinâmica destes sistemas cria paisagens com uma topografia variável, fornecendo uma variedade de habitats.


                                           Foto 2 – Dunas – Praia Grande do Guincho

As dunas do Guincho-Cresmina são uma pequena parcela do complexo Guincho-Oitavos, localizado no Parque Natural Sintra-Cascais.São um sistema ativo e muito instável devido à constante mobilidade das partículas arenosas pelos ventos fortes que se apresentam na direção Noroeste-Sudeste. Este sistema dunar é bastante particular pois a areia proveniente das praias do Guincho e da Cresmina volta ao mar mais a Sul (entre Oitavos e Guia), após migrar sobre a plataforma rochosa aplanada do Cabo Raso.
Este Sistema Dunar abrange a Praia Grande do Guincho e a Praia da Cresmina, ambas com elevada afluência de veraneantes. Também são procuradas por praticantes de surf, windsurf e kitesurf, sendo a Praia Grande do Guincho palco de campeonatos mundiais destas modalidades o que provoca pressão sobre este elemento da Geodiversidade.
Os complexos dunares estão geograficamente associados ao litoral e são constituídos, do lado do mar, pela base da duna embrionária ou frontal, pelas dunas frontais em formação, pelas dunas frontais semi-estabilizadas, localizadas mais para o interior, e por outras dunas móveis, cuja morfologia resulta da movimentação da própria duna (dunas secundárias). No sistema dunar Guincho-Cresmina  avistam-se dunas de vários tipos:

Dunas móveis embrionárias – representam os primeiros estádios de vegetação dunar. São constituídas por superfícies de areias elevadas, na faixa mais elevada das praias ou pela franja paralela ao mar na base das dunas altas. As espécies vegetais características deste habitat são Elymus farctus (Foto 3), Euphorbia peplis e Eryngium maritium. A primeira comunidade a se instalar é muito simples, dominada por uma planta muito resistente à salinidade – o Feno-das-Areias (Elymus farctus). Esta planta, de crescimento muito rápido, possui longas raízes que fixam com eficiência as areias móveis onde se desenvolve. O seu rizoma (muito flexível) estende-se por grandes extensões, colonizando toda a praia alta desde que não exista perturbações do processo. Infelizmente, a sua localização coincide com zonas de passagem dos banhistas e o pisoteio frequente leva à sua quase destruição. O estabelecimento desta espécie vai funcionar como obstáculo ao vento, que ao ser travado, deposita a sua carga de areia formando-se gradualmente uma elevação.


                                          Foto 3 - Duna embrionária com Elymus farctus

Dunas brancas – são dunas móveis que constituem os cordões arenosos mais próximos do mar. Resultam de acumulações sucessivas das areias provenientes do transporte eólico, e que são barradas por tufos de Estorno ( Ammophila arenaria). Os seus rizomas de  crescimento contínuo e as raízes a vários metros de profundidade, permitem que a acumulação de areias atinja dezenas de metros em altura. As espécies vegetais características são Ammophila arenaria, Eryngium maritium, Euphorbia paralias, Cutandia maritima, Armeria welwitschii.

Dunas cinzentas - são dunas fixas com vegetação herbácea (líquenes e musgos). Formam habitats riquissímos. As espécies vegetais que se encontram neste habitat são a Omphales kuzinskyanae, Bromus hordeaceus, Carex arenaria. A fauna está representada pela lagartixa-de-dedos-denteados e pela víbora-cornuda.


                                         Foto 4 - Praia Grande do Guincho (visível a Duna Cinzenta, a Duna Branca e a Duna                                                                                              Embrionária)


Ameaças ao Sistema Dunar e Propostas de Conservação

As dunas são sistemas instáveis, geologica e ecologicamente frágeis, mesmo quando estabilizadas pela vegetação, sendo perturbadas por qualquer alteração. (Costa & Sousa, 2009). Quando a vegetação é destruída, a areia solta não oferece resistência e o vento age de forma intensiva, avançando rapidamente e colocando em risco todo o sistema dunar. No sistema dunar Guincho-Cresmina, a existência de barreiras impermeáveis como a estrada do Guincho, restaurante e estruturas de apoio, estreitou o corredor de transporte de areia, passando a deposição de sedimentos a efetuar-se numa zona mais afastada da linha de costa. Esta situação, conjugada com o excessivo pisoteio conduziram à degradação e fragmentação da vegetação, que como já foi referido no decorrer deste trabalho, tem um papel fundamental na conservação das dunas. Assim tendo em vista a recuperação do cordão dunar foram desenvolvidas algumas ações para a conservação deste ecossistema:
- Limitação do acesso à área de intervenção através da colocação de vedações;
-Colocação de estruturas biofísicas construídas por varas secas de vime (Salgueiro) e instaladas nas dunas embrionária e primária;
- Erradicação de espécies exóticas invasoras (Acacia spp.) e plantação de espécies dunares (Ammophila arenaria);
- Estabelecimento de um percurso em passadiço sobre-levado de madeira (2 km) com acesso à praia e ligação a um núcleo de interpretação que permite apoiar a visitação.


                                           Foto 5 – Passadiço de madeira


                                 Foto 6 - Duna cinzenta, colonizada por um abundante tapete de vegetação e observando-se uma estrutura impermeável, de acesso ao restaurante que divide a duna cinzenta do resto da praia.


                                   Foto 7 - Estruturas impermeáveis: pista pedonal e estrada na Praia Grande do Guincho




Referências Bibliográficas

BOTELHO, Ana; GOMES, Pedro; CARVALHO, GASPAR (2002). Sistemas Dunares do Litoral de Esposende. Universidade do Minho.
CAMPELO, F; MARCHANTE, H; FREITAS, H. Ecologia do Género Acácia nos Ecossistemas Dunares Portugueses .
COSTA, Jesus; SOUZA, Rosemeri (2009). Paisagem Costeira e Derivações Antropogénicas em Sistemas Dunares. Scientia Plena, vol. 5, nº10. São Paulo.
CRISTINA, Carapeto (2013). Sistemas dunares: ecossistemas frágeis e preciosos. Lisboa. Editora Bubok.
PINHO, P. (et al) – Estudo de Indicadores de Vulnerabilidade de Sistemas Dunares: um contributo para a gestão integrada de zonas costeiras. Universidade Nova de Lisboa.

Outros:
Folheto informativo do Núcleo de Interpretação da Duna da Cresmina (Câmara Municipal de Cascais)
Fotografias – todas da minha autoria (12 Abr.2014)

quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

Ameaças à Geodiversidade

Segundo Gray (2008), existe uma tendência natural para considerar que a Biodiversidade é frágil e vulnerável, enquanto que as rochas e as montanhas são vistas como estáveis, estáticas e sem necessidade de proteção. Sendo que a componente abiótica é a base fundamental para a componente biótica, torna-se igualmente importante o reconhecimento tanto das ameaças como dos valores da Geodiversidade para que as estratégias de conservação sejam coroadas de êxito (Farias & Pereira, 2016).



Foto 1 – Serra da Arrábida
(A revista de janeiro deste ano da National Geographic Portugal trazia um calendário de parede com fotografias da serra da Arrábida, enaltecendo a sua bio e geodiversidade e a sua invulgar confluência de património natural e cultural na região).


Em termos gerais as ameaças à Geodiversidade resultam da dinâmica natural do Sistema Terra, nomeadamente as relações inter e intra-específicas dos ecossistemas, as atividades sísmicas e vulcânicas e os fenómenos climáticos extremos. As alterações induzidas pelo homem e que conduzem a uma perda de Geodiversidade podem ser diretas ou indiretas (Gray, 2008).


Ameaças diretas
Estas alterações estão diretamente relacionadas com a extração mineira, a deposição de resíduos, as alterações no uso dos solos, a expansão urbana, a proteção costeira (por exemplo, a construção de diques), as atividades agrícolas e turísticas não sustentáveis, a florestação/desflorestação, e a recolha de amostras sem fins científicos. Estas alterações provocam a perda total, parcial ou dano físico de elementos da Geodiversidade ou do seu acesso e visibilidade. Também provocam impactos visuais, poluição e interrupção dos processos naturais (Gray, 2004).


Foto 2 – Extração de inertes (areia)


Foto 3 – Comércio ilegal de fósseis da Chapada do Araripe


Foto 4 – Gruta de S. Vicente – Madeira



Foto 5 – Gruta de Mira D’Aire


Foto 6 – Bancadas de Calcário do Cretácio (Av. Calouste Gulbenkian em Lisboa)


Ameaças indiretas
Estas alterações estão relacionadas com a demografia humana, a erosão e as alterações climáticas. Para além disso, a iliteracia cultural, a falta de formação na área das ciências (nomeadamente a Geologia) e a não atribuição de valores à Geodiversidade são factores que promovem atitudes favoráveis à perda do património geológico.



Referências Bibliográficas
FARIAS, Thiago, PEREIRA, Luciano (2016). Os valores e ameaças à Geodiversidade: um olhar sobre João Pessoa – PB e Litoral Sul do Estado. Revista da Anpege. Vol. 12, nº17, p.141-166.
GRAY, Murray (2008). Geodiversity: a new paradigm for valuing and conserving Geoheritage. Geoscience Canada. Vol.35, nº2.
GRAY, Murray (2004). Geodiversity: valuing and conserving abiotic nature. John Wiley & Sons, Ltd.
Imagens
Fotos 1 a 5 – Google images

Foto 6 – sopasdepedra.blogspot.com (blog do Professor Galopim de Carvalho)

terça-feira, 6 de dezembro de 2016

Conceito e valores da geodiversidade
Fala-se muito da biodiversidade, mas só agora se toma consciência de uma das suas bases – a geodiversidade.
De facto, a geodiversidade é a componente abiótica dos ecossistemas e é essencial para a manutenção da biodiversidade.
De acordo com a Royal Society for Nature Conservation do Reino Unido a Geodiversidade “consiste na variedade de ambientes geológicos, fenómenos e processos ativos que dão origem a paisagens, rochas, minerais, fósseis, solos e outros depósitos superficiais que são o suporte para a vida na Terra”(Brilha,).

Os valores da geodiversidade podem ser agrupados do seguinte modo (Gray 2004 citado por Brilha):
-valor intrínseco, refere-se ao valor da geodiversidade por si mesmo, independentemente da sua utilidade para o Homem ou para outros seres vivos.
-valor cultural, estando relacionado com aspectos culturais que surgiram na dependência das características geológicas atuais.
-valor estético, porque todas as paisagens têm um valor estético. É a geodiversidade que modela as paisagens, originando formações de grande beleza.
Os valores estéticos e culturais poderão ser interdependentes em algumas paisagens, como é o caso da Paisagem Cultural Evolutiva e Viva do Alto Douro Vinhateiro.



Fig. 1 – Alto Douro Vinhateiro (fonte: Google images)

-valor económico, talvez o valor mais objectivo e compreensível, dado que o Homem esteve sempre habituado a atribuir um valor económico a bens e serviços. Os recursos geológicos podem ser agrupados em metálicos (de onde extraem os elementos metálicos, como o ferro, o magnésio, o zinco); os não metálicos (usados na indústria química, como os fertilizantes, as águas minerais) e os energéticos (usados como fonte de energia, como por exemplo os combustíveis fósseis e o urânio).
-valor funcional, é um conceito que normalmente não é aplicável à Conservação da Natureza. O valor funcional da geodiversidade pode ser encarado como o valor da geodiversidade in situ e enquanto suporte para a vida,.
-valor científico e educativo, é um conceito abrangente e importante tanto para a investigação científica (por exemplo, a existência de fósseis em estratos rochosos que permitem a datação da formação rochosa) como para a educação no domínio das Ciências Naturais (por exemplo a observação de formações rochosas em saídas de campo).

Referências Bibliográficas

BRILHA, José (2005). Património Geológico e Geoconservação: a conservação da natureza na sua vertente Geológica. Palimage Editores. Braga.

sexta-feira, 25 de novembro de 2016

Ameaças à Biodiversidade
A manutenção de ecossistemas saudáveis são fundamentais à vida e às atividades humanas. Os bens e serviços que oferecem são essenciais tanto para a manutenção do bem-estar do Homem como para o desenvolvimento económico e social futuro (Sala et al, 2000, MEA, 2005, Groombridge e Jenkins, 2002 citados por Proença e Araújo, 2009, Comissão Europeia, 2009).
Os bens produzidos pelos ecossistemas incluem os alimentos, água, combustíveis e madeira, enquanto que os serviços ecossistémicos abrangem o fornecimento de água e purificação do ar, a reciclagem natural de resíduos, a formação do solo e a polinização. Ainda nos serviços ecossistémicos estão incluídos os mecanismos que a natureza utiliza para controlar as condições climatéricas, as populações de animais, insectos e outros organismos (Jesus e Sampaio, 2007). A biodiversidade ainda proporciona serviços de educação, cultura e lazer na natureza, bem como a apreciação estética dos ecossistemas e das suas componentes (Avelar, sd ).



Palácio de Monserrate – Sintra (fotografia da minha autoria)

No entanto, são as atividades humanas que estão a destruir a biodiversidade a um nível global e a alterar a capacidade dos ecossistemas para produzirem esta enorme gama de bens e serviços (Sala et al, 2000, MEA, 2005, Groombridge e Jenkins, 2002 citados por Proença e Araújo, 2009, Comissão Europeia, 2009).
O Millennium Ecosystem Assessment (MEA) define promotor de alterações à biodiversidade como “qualquer factor natural ou antropogénico que direta ou indiretamente cause uma alteração num ecossistema” (Domingos et al, 2009).

Promotores das alterações à biodiversidade em Portugal Continental
Das forças motrizes diretas contamos com:
-as alterações ao uso do solo;
-a sobreexploração de recursos;
-o aumento da rede viária;
-a poluição;
-o efeito das alterações climáticas.
Das forças motrizes indiretas, ou seja, aquelas que não afetam diretamente os ecossistemas mas que têm efeito sobre as forças motrizes diretas, temos:
-a influência das políticas e directivas comunitárias, tanto a nível ambiental como a nível económico e social;
-a Política Agrícola Comum (PAC);
-os fatores demográficos;
-a conjuntura económica no país.

De notar que, em Portugal Continental, o estado atual dos ecossistemas resulta de um longo processo de alteração, perturbação e destruição dos habitats naturais. A floresta original, dominada por espécies de Quercus e Betula foi lentamente destruída, como consequência da preparação das terras para pastos e cultivos. A partir do séc.XX, após vários programas de reflorestação à escala nacional, a floresta voltou a ocupar grandes áreas de solo. No entanto, a floresta atual é muito diferente da original, provocando a framentação de habitats (Araújo e Proença, 2009).
Esta perda de serviços ecossistémicos, como consequência da perda de biodiversidade, irá exigir alternativas dispendiosas (MEA, 2005). Igualmente importante, é a herança natural que a biodiversidade representa e portanto é obrigação moral de todos nós saber geri-la de modo sustentável, para que a possamos transmitir às gerações futuras.

Referências Bibliográficas
ARAÚJO, Miguel, PROENÇA, Vânia (2009). Biodiversidade.
AVELAR, David et al (sd). Estudo do efeito das alterações climáticas no Município de Sintra. Projeto SIAM. Lisboa.
Comissão Europeia (2009). Bens e Serviços Ecossistémicos.
DOMINGOS, Tiago et al (2009). Promotores de alterações nos Ecossistemas.
JESUS, Ana Clara, SAMPAIO, Isabel (2007). Fundamentos de Educação Ambiental. Faculdade de Tecnologia e Ciências.
Millennium Ecosystem Assessment (2005). Causes of biodiversity change. Ecosystems and human well-being: Biodiversity Synthesis. World Resources Institute. Washington DC.


terça-feira, 22 de novembro de 2016

Ameaças à Biodiversidade

Segundo o Millennium Ecosystem Assessment, a mudança dos padrões, a nível global, da biodiversidade e serviços ecossistémicos está relacionada:
Indiretamente - aspectos demográficos, económicos, socio-políticos, culturais/religiosos e científicos/tecnológicos.
Diretamente - alteração de habitats, alterações climáticas, introdução de espécies exóticas, sobre-exploração de espécies e poluição.

Mas, e quando a maldade humana também é promotor direto da perda de biodiversidade?...
Na ilha de Bornéu, na Ásia, uma organização de resgate animal conseguiu resgatar um orangotango bébé preso numa cozinha há mais de seis meses. O animal estava a ser mantido como animal de estimação. Sendo uma espécie ameaçada, o orangotando-de-bornéu não pode, por lei, ser mantido como animal de estimação. No entanto, indiferentes a esta probição os “donos de Bonika”, mantinham o animal bébé preso com uma corrente a uma tábua de madeira, no interior da cozinha da família.


Bonika, está agora de quarentena no International Animal Rescur Orangutan Center para despitar possíveis doenças. Após este período, começará um processo de reabilitação para que logo que possível volte para o seu habitat natural.
Com elevado risco de extinção, o orangotango-de-bornéu está classificado como espécie ameaçada pela União Internacional para a Conservação da Natureza. (GreenSavers 21/11/2016)
Os primatas são de uma enorme importância na saúde dos ecossistemas. São os responsáveis pela reprodução de uma série de plantas e animais devido à dispersão de sementes de frutas e plantas por eles consumidas. Segundo algumas organizações não governamentais tais como a “Care for the wild” e a “Prowildlife”, o consumo de carne de primatas leva à caça de 5,4 milhões por ano só na Amazónia Brasileira.
Presentemente, a caça aos primatas supera a destruição dos habitas, na ameaça à sua extinção.


Referências Bibliográficas
ARAGÃO, M.J. (2011). Biodiversidade e Sustentabilidade da Vida. Media XXI. Odivelas.
Millennium Ecosystem Assessment (2005). Causes of biodiversity change. Ecosystems and Human Well-being: Biodiversity Synthesis. World Resources Institute, Washington, D.C.

Fotografia: International Animal Rescue Orangutan Center

quarta-feira, 9 de novembro de 2016

Conceitos e valores da Biodiversidade
O termo Biodiversidade resulta da fusão das palavras “Biologia” (ramo da ciência que estuda os seres vivos) e “diversidade” (Aragão, 2011).
Foi na década de 80 que o termo Biodiversidade se tornou conhecido e a sua divulgação dá-se a partir da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (CNUMAD), também conhecida por Rio 92. Durante essa conferência ocorreu a Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB), na qual 175 países, assinaram medidas gerais para a conservação e utilização sustentável da Biodioversidade (Fonseca, 2007). Também foi nesta Convenção que se chegou a uma “definição bastante ampla de Biodiversidade” (Franco, 2013), que abrange a diversidade de espécies, diversidade genética e diversidade de ecossistemas.

Biodiversidade é, pois, a variedade de todos os seres vivos. Em termos mais precisos é a variabilidade entre todos os organismos vivos, incluindo terrestres e marinhos, outros ecossistemas aquáticos e ecossistemas do subsolo. (Aragão, 2011).
No entanto, apesar da utilização usual do conceito de biodiversidade, não existe apenas uma definição com vista a possíveis aplicações em planeamento, ordenamento do território e conservação (Araújo, 1998). Também Franco (2013) refere que “a noção de biodiversidade ou diversidade biológica permanece bastante vaga, e a medição da biodiversidade no mundo real não é tarefa fácil.”
A avaliação da biodiversidade tem sido realizada de forma diversa consoante o grupo profissional ou social que a interpreta:
Para os ecólogos das comunidades, o conceito tem sido associado a dois componentes distintos: a riqueza, que dá mais peso relativo às espécies raras e a equitibilidade, dando maior ponderação às espécies comuns.
Para os taxonomistas, quantificar a biodiversidade é medir números e diferenças entre atributos taxonómicos (Gaston, 1996a; Humphries et al, 1995, citados por Araújo, 1998).
Para os conservacionistas, valoriza-se o raro, o belo e o pouco habitual.
Mas, para a maioria dos autores, a conservação da biodiversidade tem sido justificada em termos de valor económico, funcionalidade ecológica e ética biológica (Northon, 1986, Swanson, 1995 e Caughley,  Gunn, 1996 citados por Fonseca, 2007).
O argumento económico refere que a humanidade obtém dos recursos biológicos, elementos indispensáveis à sua sobrevivência como os alimentos, os remédios e os produtos industrializados, para além de usufruir de inúmeras vantagens económicas provenientes desses recursos .
O argumento da funcionalidade ecológica evidencia que os ecossistemas são sensíveis a mudanças efectuadas na sua biodiversidade, pois os organismos que vivem, crescem, reproduzem e interagem neles ajudam a medir fluxos locais e regionais de energia e matéria. Os fluxos de energia dizem respeito à captura de energia pelas plantas verdes ou algas fotossintetizantes e a sua dispersão como energia química ao longo do ciclo alimentar para plantas ou animais predadores e, eventualmente, decompositores. O fluxo de matéria envolve a reciclagem de carbono, nitrogénio, fósforo, e outros elementos, entre os organismos vivos, e o ar, a água e o solo. Desse modo, os mediadores biológicos de ciclos de energia e materiais contribuem para a manutenção dos ecossistemas, apoiando a vida, além de trazerem benefícios ao bem-estar humano, tais como: regulação do efeito de estufa, tratamento da água, controle de erosão, controle da qualidade do solo e crescimento de plantas (Naeem, 1999 citado por Fonseca, 2007). Por outro lado, a diminuição na riqueza de espécies pode comprometer, a níveis globais, o funcionamento dos ecossistemas, pois a resposta de um destes ao declínio da biodiversidade é dependente da composição da comunidade, isto é, tem relação com as espécies perdidas e aquelas que permanecem.
O argumento ético preconiza que todas as espécies, como parte da comunidade de seres vivos, têm um valor em si, sem conexão com as necessidades dos humanos, por isso a sua sobrevivência precisa de ser garantida, de modo a conservar a integridade da biosfera. Considera, ainda, o mundo como interdependente e que a humanidade, como parte da natureza, precisa construir uma cultura em que a vida seja vista como dependente dos sistemas naturais e sociais para ser mantida. Por isso, a humanidade deve ter respeito profundo pela natureza, acompanhado de um senso de responsabilidade social, capaz de promover a sua conservação  (Wilson, 1992 citado por Fonseca, 2007).
Os argumentos económicos, ambientais e éticos estão interligados, na medida em que o declínio das espécies e a degradação dos ecossistemas estão intrinsecamente ligados ao bem-estar humano e a sua conservação, num sentido de salvaguarda e de utilização racional e sustentável, constitui uma obrigação moral e civilizacional (Fadigas, 2011)
O Intergovernmental Painel on Climate Change (IPCC), aponta a atividade humana como sendo a principal causa para a mudança do clima devido a um consumo crescente de combustíveis fósseis, originando um acréscimo nas emissões de gases com efeito de estufa (GEE). 
As Alterações Climáticas (AC) que se refletem no domínio ambiental também colocam em causa a sobrevivência das sociedades humanas tal como as conhecemos e a prosperidade da economia mundial. As AC são uma das causas da perda da biodiversidade. Simultaneamente esta perda de biodiversidade será um fator decisivo para o aceleramento e intensificação das alterações climáticas. Os ecossistemas terrestres, tais como as turfeiras e zonas húmidas, ambas consideradas autênticas relíquias biológicas, os solos, as florestas e os ecossistemas marinhos absorvem cerca de metade das emissões de dióxido de carbono (CO2) produzidas pelo homem. Segundo o grupo de peritos da União Europeia para a biodiversidade e as alterações climáticas, os ecossistemas terrestres armazenam cerca de 2100 GT de carbono em organismos vivos, na folhada e na matéria orgânica do solo, ou seja, quase o triplo do carbono atualmente presente na atmosfera. Também os oceanos e os ecossistemas marinhos têm um importante papel na gestão do carbono, dado que é no fundo dos oceanos que se armazenam grandes quantidades de carbono.
Os decisores políticos têm respondido às preocupações sobre o declínio dos níveis de biodiversidade através da introdução de várias políticas ambientais. A quantificação do valor económico da biodiversidade é um passo fundamental na conservação deste recurso (Pearce, 2001 citado por Christie et al, 2006).
Os recursos naturais, na sua diversidade, são valores económicos, sociais, culturais, recreativos, estéticos e científicos, essenciais à vida humana e á sua sobrevivência, daí que a conservação da natureza deva ser considerada como matéria central das políticas de ordenamento do território e um dos seus referenciais (Fadigas, 2011).
Assim sendo, a manutenção de espaços verdes nas cidades, como os corredores ecológicos, permite uma presença de elementos de fauna e flora muito diversificados, permitindo o controle da erosão do solo, facilita o ciclo hídrico, tendo funções de enquadramento, recreio, protecção e é factor de qualificação ambiental (Fadigas, 2010).

Referências Bibliográficas

ARAGÃO, M.J. (2011). Biodiversidade e Sustentabilidade da Vida. Media XXI. Odivelas.
ARAÚJO, M. (1998). Avaliação da biodiversidade em conservação. Silva Lusitana.
COMISSÃO EUROPEIA (2010). O papel da natureza nas alterações climáticas. Grupo de Peritos ad hoc para a biodiversidade e as alterações climáticas.
CHRISTIE, M. et al (2006). Valuing the diversity of biodiversity. Ecological Economics, 58:304-317.
FADIGAS, L. (2010). Urbanismo e Natureza – Os Desafios. Edições Sílabo, Lda. Lisboa.
FADIGAS, L. (2011). Fundamentos Ambientais do Ordenamento do Território e da Paisagem. Edições Sílabo, Lda. Lisboa.
FONSECA, M.C. (2007). A biodiversidade e o desenvolvimento sustentável nas escolas do ensino médio de Belém, Brasil. Revista Educação e Pesquisa. Vol.33, p.63-79.
FRANCO, J.A. (2013). O conceito de biodiversidade e a história da biologia da conservação: da preservação da wilderness à conservação da biodiversidade. V.32, n.2, p.21-48. jul/dez. Universidade de Brasília.

INTERGOVERNMENTAL PAINEL ON CLIMATE CHANGE (2014). Climate Change 2014 – Synthesis Report, Fifth Assessment Report