quarta-feira, 9 de novembro de 2016

Conceitos e valores da Biodiversidade
O termo Biodiversidade resulta da fusão das palavras “Biologia” (ramo da ciência que estuda os seres vivos) e “diversidade” (Aragão, 2011).
Foi na década de 80 que o termo Biodiversidade se tornou conhecido e a sua divulgação dá-se a partir da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (CNUMAD), também conhecida por Rio 92. Durante essa conferência ocorreu a Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB), na qual 175 países, assinaram medidas gerais para a conservação e utilização sustentável da Biodioversidade (Fonseca, 2007). Também foi nesta Convenção que se chegou a uma “definição bastante ampla de Biodiversidade” (Franco, 2013), que abrange a diversidade de espécies, diversidade genética e diversidade de ecossistemas.

Biodiversidade é, pois, a variedade de todos os seres vivos. Em termos mais precisos é a variabilidade entre todos os organismos vivos, incluindo terrestres e marinhos, outros ecossistemas aquáticos e ecossistemas do subsolo. (Aragão, 2011).
No entanto, apesar da utilização usual do conceito de biodiversidade, não existe apenas uma definição com vista a possíveis aplicações em planeamento, ordenamento do território e conservação (Araújo, 1998). Também Franco (2013) refere que “a noção de biodiversidade ou diversidade biológica permanece bastante vaga, e a medição da biodiversidade no mundo real não é tarefa fácil.”
A avaliação da biodiversidade tem sido realizada de forma diversa consoante o grupo profissional ou social que a interpreta:
Para os ecólogos das comunidades, o conceito tem sido associado a dois componentes distintos: a riqueza, que dá mais peso relativo às espécies raras e a equitibilidade, dando maior ponderação às espécies comuns.
Para os taxonomistas, quantificar a biodiversidade é medir números e diferenças entre atributos taxonómicos (Gaston, 1996a; Humphries et al, 1995, citados por Araújo, 1998).
Para os conservacionistas, valoriza-se o raro, o belo e o pouco habitual.
Mas, para a maioria dos autores, a conservação da biodiversidade tem sido justificada em termos de valor económico, funcionalidade ecológica e ética biológica (Northon, 1986, Swanson, 1995 e Caughley,  Gunn, 1996 citados por Fonseca, 2007).
O argumento económico refere que a humanidade obtém dos recursos biológicos, elementos indispensáveis à sua sobrevivência como os alimentos, os remédios e os produtos industrializados, para além de usufruir de inúmeras vantagens económicas provenientes desses recursos .
O argumento da funcionalidade ecológica evidencia que os ecossistemas são sensíveis a mudanças efectuadas na sua biodiversidade, pois os organismos que vivem, crescem, reproduzem e interagem neles ajudam a medir fluxos locais e regionais de energia e matéria. Os fluxos de energia dizem respeito à captura de energia pelas plantas verdes ou algas fotossintetizantes e a sua dispersão como energia química ao longo do ciclo alimentar para plantas ou animais predadores e, eventualmente, decompositores. O fluxo de matéria envolve a reciclagem de carbono, nitrogénio, fósforo, e outros elementos, entre os organismos vivos, e o ar, a água e o solo. Desse modo, os mediadores biológicos de ciclos de energia e materiais contribuem para a manutenção dos ecossistemas, apoiando a vida, além de trazerem benefícios ao bem-estar humano, tais como: regulação do efeito de estufa, tratamento da água, controle de erosão, controle da qualidade do solo e crescimento de plantas (Naeem, 1999 citado por Fonseca, 2007). Por outro lado, a diminuição na riqueza de espécies pode comprometer, a níveis globais, o funcionamento dos ecossistemas, pois a resposta de um destes ao declínio da biodiversidade é dependente da composição da comunidade, isto é, tem relação com as espécies perdidas e aquelas que permanecem.
O argumento ético preconiza que todas as espécies, como parte da comunidade de seres vivos, têm um valor em si, sem conexão com as necessidades dos humanos, por isso a sua sobrevivência precisa de ser garantida, de modo a conservar a integridade da biosfera. Considera, ainda, o mundo como interdependente e que a humanidade, como parte da natureza, precisa construir uma cultura em que a vida seja vista como dependente dos sistemas naturais e sociais para ser mantida. Por isso, a humanidade deve ter respeito profundo pela natureza, acompanhado de um senso de responsabilidade social, capaz de promover a sua conservação  (Wilson, 1992 citado por Fonseca, 2007).
Os argumentos económicos, ambientais e éticos estão interligados, na medida em que o declínio das espécies e a degradação dos ecossistemas estão intrinsecamente ligados ao bem-estar humano e a sua conservação, num sentido de salvaguarda e de utilização racional e sustentável, constitui uma obrigação moral e civilizacional (Fadigas, 2011)
O Intergovernmental Painel on Climate Change (IPCC), aponta a atividade humana como sendo a principal causa para a mudança do clima devido a um consumo crescente de combustíveis fósseis, originando um acréscimo nas emissões de gases com efeito de estufa (GEE). 
As Alterações Climáticas (AC) que se refletem no domínio ambiental também colocam em causa a sobrevivência das sociedades humanas tal como as conhecemos e a prosperidade da economia mundial. As AC são uma das causas da perda da biodiversidade. Simultaneamente esta perda de biodiversidade será um fator decisivo para o aceleramento e intensificação das alterações climáticas. Os ecossistemas terrestres, tais como as turfeiras e zonas húmidas, ambas consideradas autênticas relíquias biológicas, os solos, as florestas e os ecossistemas marinhos absorvem cerca de metade das emissões de dióxido de carbono (CO2) produzidas pelo homem. Segundo o grupo de peritos da União Europeia para a biodiversidade e as alterações climáticas, os ecossistemas terrestres armazenam cerca de 2100 GT de carbono em organismos vivos, na folhada e na matéria orgânica do solo, ou seja, quase o triplo do carbono atualmente presente na atmosfera. Também os oceanos e os ecossistemas marinhos têm um importante papel na gestão do carbono, dado que é no fundo dos oceanos que se armazenam grandes quantidades de carbono.
Os decisores políticos têm respondido às preocupações sobre o declínio dos níveis de biodiversidade através da introdução de várias políticas ambientais. A quantificação do valor económico da biodiversidade é um passo fundamental na conservação deste recurso (Pearce, 2001 citado por Christie et al, 2006).
Os recursos naturais, na sua diversidade, são valores económicos, sociais, culturais, recreativos, estéticos e científicos, essenciais à vida humana e á sua sobrevivência, daí que a conservação da natureza deva ser considerada como matéria central das políticas de ordenamento do território e um dos seus referenciais (Fadigas, 2011).
Assim sendo, a manutenção de espaços verdes nas cidades, como os corredores ecológicos, permite uma presença de elementos de fauna e flora muito diversificados, permitindo o controle da erosão do solo, facilita o ciclo hídrico, tendo funções de enquadramento, recreio, protecção e é factor de qualificação ambiental (Fadigas, 2010).

Referências Bibliográficas

ARAGÃO, M.J. (2011). Biodiversidade e Sustentabilidade da Vida. Media XXI. Odivelas.
ARAÚJO, M. (1998). Avaliação da biodiversidade em conservação. Silva Lusitana.
COMISSÃO EUROPEIA (2010). O papel da natureza nas alterações climáticas. Grupo de Peritos ad hoc para a biodiversidade e as alterações climáticas.
CHRISTIE, M. et al (2006). Valuing the diversity of biodiversity. Ecological Economics, 58:304-317.
FADIGAS, L. (2010). Urbanismo e Natureza – Os Desafios. Edições Sílabo, Lda. Lisboa.
FADIGAS, L. (2011). Fundamentos Ambientais do Ordenamento do Território e da Paisagem. Edições Sílabo, Lda. Lisboa.
FONSECA, M.C. (2007). A biodiversidade e o desenvolvimento sustentável nas escolas do ensino médio de Belém, Brasil. Revista Educação e Pesquisa. Vol.33, p.63-79.
FRANCO, J.A. (2013). O conceito de biodiversidade e a história da biologia da conservação: da preservação da wilderness à conservação da biodiversidade. V.32, n.2, p.21-48. jul/dez. Universidade de Brasília.

INTERGOVERNMENTAL PAINEL ON CLIMATE CHANGE (2014). Climate Change 2014 – Synthesis Report, Fifth Assessment Report

2 comentários:

  1. Bom dia Maria João,
    em relação à manutenção dos espaços verdes nas cidades, gostaria ainda de acrescentar à palavra manutenção, criação de novos espaços verdes de diferentes tipologias de modo a poder tirar mais partido de todas as vantagens que referiste, nomeadamente o aumento da biodiversidade.
    FIM

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  2. Bom dia Maria João, bem escrito, corretamente estruturado. No que oncerne "A quantificação do valor económico da biodiversidade" seria interessante ter lido explorado "A Economia dos ecossistemas e da biodiversidade - TEEB (2008)", o que lhe decerto lhe traria informação complementar importante. Seria também, naturalmente, importante que lesse os materiais de aprendizagem obrigatórios da UC, antes de explorar outros. PBN

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